Contrariando as previsões, o otimismo toma conta do mercado imobiliário nacional em meio à recessão provocada pela pandemia do novo coronavírus. Enquanto o Banco Central espera uma queda de 6,5% para a economia brasileira, o setor imobiliário inicia um novo ‘boom’ com a redução histórica da Selic para 2%.
Este menor patamar da taxa básica de juros cria condições favoráveis para as operações de crédito e investimentos, o que se reflete nas vendas do setor. A taxa de juro média do financiamento imobiliário também está no menor patamar da história, estimulando o aquecimento das negociações. “Toda crise apresenta grandes oportunidades para alguns setores. Nunca houve na história do Brasil taxas de juros tão baixas para o consumidor. Então, sem dúvidas, quem pode comprar um imóvel financiado deve aproveitar este momento”, explica Yslanda Barros, consultora de negócios e especialista em mercado imobiliário.
Ela ressalta que o contexto influencia também no aumento do poder de compra, já que a redução dos juros corresponde a um desconto significativo na parcela do financiamento, que passa a caber com maior facilidade no bolso dos compradores. “Por exemplo, o cliente que comprou um imóvel de R$500.000 em 2015, quando a Selic estava alta e a média do financiamento habitacional girava em torno de 14,5%, pagou parcelas de cerca de R$ 6.000. Com a queda desta taxa para 10% em 2018, o cliente pagaria prestações de R$ 4.800 para o mesmo imóvel. Hoje, com a redução da Selic e dos juros, as parcelas seriam de R$ 3.500.”
Mesmo sem o sonho de adquirir o apartamento próprio, o gerente de finanças Guilherme Cotrim abraçou a oportunidade. “Nunca quis comprar um imóvel, na realidade, sempre pensei que o investimento imobiliário fosse complicado porque precisaria mobilizar muito dinheiro enquanto outras aplicações poderiam render mais.” No entanto, a virada de jogo do setor fez com que Cotrim mudasse de ideia. “Neste período de pandemia, os investimentos tradicionais não estão rendendo como há um ano. Então, com a minha companheira, decidi parar de pagar aluguel e entrar neste mundo imobiliário. Ao menos, daqui uns anos, teremos alguma propriedade”, diz. O gerente afirma que os principais motivos para sua escolha foram a queda da taxa de juros, a facilidade para acessar o FGTS e a redução dos preços dos imóveis. “Encontrei um apartamento com o valor abaixo do preço de mercado e os antigos proprietários ainda fizeram um esforço para diminuir mais o valor e vender logo.”
Neste cenário econômico, o mercado financeiro tem observado um movimento de migração dos investidores de ações para o setor imobiliário, já que os fundos tradicionais, como a poupança e a renda fixa, não estão rendendo bons lucros. “O perfil do investidor e do comprador está mudando. Por um lado, temos uma nova geração, entre os 30 e 35 anos de idade, que procura por imóveis de 25 m² a 75 m² nas proximidades do metrô. Por outro lado, a pandemia mudou a rotina de muitas pessoas que passaram a trabalhar dentro de suas casas em regime de home office, aumentando a demanda por espaços maiores e imóveis localizados em regiões mais afastadas do centro, já que o deslocamento para os escritórios se tornou mais raro”, analisa Regis Balieiro, sócio-diretor da imobiliária Viver Morumbi.
O diretor destaca que já sentiu na pele (e nas contas) as consequências do recente aquecimento do setor. “Com o anúncio da pandemia, imaginamos que as vendas iriam parar, mas, para nossa surpresa, experimentamos o efeito contrário com a queda no preço dos imóveis (principalmente entre os usados) e ascensão das negociações”, relata. De acordo com Balieiro, os compradores devem permanecer atentos para não perderem esta “oportunidade única” ao adiarem o investimento em propriedades porque, segundo ele, as tendências do mercado apontam para a valorização dos imóveis e ajuste das taxas de juros durante os próximos meses.